Há duas semanas recebi um desafio na cadeira de
produção textual: encontrar uma foto e a partir dela construir uma crônica. Sem
tempo para fotografar alguma coisa interessante o suficiente – desculpa barata,
especialmente morando em uma simpática cidadezinha da serra gaúcha – fui buscar
em minhas antigas fotografias alguma que servisse. Dentre tantas uma chamou
minha atenção. O que tem de especial? Não muita coisa. Retrata o balcão de um
bar tradicional do cenário alternativo santa-mariense.
A fotografia foi feita em um carnaval comemorado ao
som de samba de raiz e cerveja barata – na época artigos encontrados no dito
bar, hoje o samba já não canta naquelas paredes, e a cerveja foi ‘gourmetizada’.
Mas o que chama minha atenção é a mulher ali sentada naquele balcão,
acompanhada apenas pelo seu copo. Vestido curto, cabelo solto, olhar perdido.
Tenho vivido muitas – e acaloradas – discussões sobre
feminismo e pensado muito no que significa ser feminista. Não raras vezes sou
confrontada com opiniões contrárias ao feminismo que se baseiam em argumentos
acerca de relacionamento. Sobre como uma mulher deve temer estar sozinha. Sobre
como devemos esperar a proteção de um homem. Sobre como seria “feio” uma mulher
estar – como a moça da minha foto – sozinha em um bar tomando tranquilamente
sua cerveja numa sexta feira à noite.
Sabem, honestamente sou muito afeiçoada a solidão.
Quantas vezes gostaria de ser a mulher desta foto. Vestir meu vestido curto,
soltar meus cabelos, ir até um bar qualquer, sentar-me sozinha ao balcão e
tomar uma cerveja. Algo tão aceito para qualquer homem, mas tão complicado para
qualquer mulher. Há um certo conforto em passar algumas horas sozinha
observando o mundo em volta... todo barulho e confusão, e estar a parte disso.
Por fim, não sei se a mulher da foto realmente
estava sozinha. Mas foi assim que retratei e que imagino esse momento. E não
existe absolutamente nada de errado em estar. Não existe nada de errado em
vestir o que se tem vontade. Nem em beber o que dá sede. Já diz o velho ditado:
‘a maldade está nos olhos de quem vê’. E nesse caso eu vejo cansaço. Cansaço de
um mundo que está sempre vigiando e julgando, sem dar um minuto de refugio e descanso.
As vezes só gostaria de ser aquela mulher...
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