sábado, 2 de abril de 2016

O machismo nosso de cada dia

Nessa semana discutimos dois filmes em duas cadeiras na faculdade ("Escritores da liberdade" e "O clube do imperador"), a ideia era discutir questões acerca da escolha de ser professor@ e suas implicações éticas e pessoais. No primeiro a protagonista é uma mulher jovem (interpretada por Hilary Swank) que se torna professora de uma turma marginalizada e que dá sua vida acreditando na educação daqueles jovens. No segundo o protagonista é um respeitado professor de uma antiga e imponente escola para meninos (interpretado por Kevin Kline) que acredita em determinado estudante - filho de um senador americano - considerado problemático, o que se revela perda de tempo, já que o jovem insiste em "colar".
No entanto o que chamou a atenção nos debates após o filme não foram os comentários acerca da ética ou das situações vividas por aqueles personagens enquanto professores/educadores/docentes. Passamos toda a discussão do primeiro filme falando sobre como a professora "largou" sua vida pessoal em detrimento ao trabalho e assim "perdeu" seu marido, já que ela havia encontrado realização profissional na carreira docente, coisa que ele (o marido) não havia encontrado e não conseguia aceitar nela. A culpa era de quem? Da professora, óbvio. Quem mandou se dedicar, e mais do que isso: gostar tanto do trabalho enquanto o marido não conseguia fazer o mesmo? Claro que a culpa das frustrações profissionais dele era dela! (alerta de ironia, ok?!) Ninguém pareceu reparar no sucesso que ela teve ajudando aqueles jovens, e que isso também fazia ela feliz. Como se o fato de não ter marido ao final do filme fizesse com que ela fosse infeliz, o que não era verdade. O marido dá opção pedindo que ela escolha entre ele e a profissão: se isso não é um relacionamento abusivo, então o que é?
No segundo filme, com o protagonista sendo homem, a situação foi contrária. O professor era bem sucedido na sua carreira e ninguém ousou comentar o fato de que até certa parte do filme ele sequer tinha uma esposa, e que quando enfim se casa os seus problemas profissionais o isolam totalmente dela, e isso em momento nenhum foi visto como um problema. Se, hipoteticamente falando, ela tivesse tido a mesma reação do (ex) marido da professora do outro filme certamente seria considerada “a louca que quer atrapalhar a carreira do marido e não entende o excelente profissional que ele é”.
Hoje vimos a capa da revista “Isto é” falando do “nervosismo” da presidenta Dilma, colocando a mesma no papel de louca e descontrolada, psicologicamente desequilibrada. Há alguns anos a mesma revista trouxe a capa Dunga, na época treinador da seleção, exaltando os “pontos positivos” dos seus surtos nervosos.
Enfim. Vira e mexe me perguntam “por que ser feminista”. Por um motivo muito simples: me cansa ver esses “dois pesos e duas medidas” quando se trata de avaliações de homens e mulheres. Citei apenas dois exemplos que aconteceram em um período de dois dias. A misoginia está matando mulheres todos os dias, e como futura educadora não posso aceitar que continuemos perpetuando tais preconceitos. 

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